O NOVO NORMAL para diferentes setores económicos
Turismo
Antes da crise, os centros urbanos de grandes cidades como Lisboa e Porto foram perdendo cada vez mais a função de espaços de convivência, transformando-se em máquinas de dinheiro, ou seja, lugares onde se vende apenas produtos e serviços a turistas (por exemplo, alojamentos Airbnb) e a pessoas ricas (high street shopping), e se visita exposições e museus.
O resultado é que esses centros se converteram numa espécie de parque temático que simula uma experiência urbana, mas sem moradores locais. É possível que a crise do Covid-19 tenha desacelerada essa tendência. Prédios de escritórios nos centros das cidades poderão ser reconfigurados devido à menor procura deste tipo de espaço.
Os turistas começaram/começarão também a viajar mais para regiões menos densas, como o interior, de modo a evitar as áreas híper-densas (como as grandes cidades).
As operadoras de turismo estão a digitalizar-se mais: Com a AI podem oferecer serviços de assistentes com inteligência artificial que orientam os turistas de maneira muito personalizada durante sua estadia. O assistente funciona como uma agência de viagens pessoal e permanente. Assume uma ampla gama de tarefas: guia turístico, tradutor, navegador, faz a reserva de alojamento, compra bilhetes, check-in etc. Contudo, isso não significa que o assistente decide tudo da viagem. Se houver uma alteração, ele reajusta automaticamente todos os parâmetros, tal como o GPS de um carro.
Exemplo: Localixo (https://localixo.com/en/pro/)
Eis um exemplo de uma startup na área do turismo que melhora consideravelmente a posição do cliente: Todos sabemos que as companhias aéreas fizeram da reserva de voos uma espécie de lotaria. Os preços sobem e descem de um dia para o outro. A startup americana Hopper (https://www.hopper.com/) é extremamente bem-sucedida, fornecendo ao cliente um serviço para desarmar o jogo de preços de companhias aéreas. Durante 10 anos, os engenheiros da Hoppers estudaram os algoritmos que as companhias aéreas utilizam para fixar preços, descobrindo assim os mecanismos de mudança de preços. Agora avisam os clientes se o dia da reserva não estiver bom, e indicam o melhor momento para a reserva. O slogan “Never overpay for travel again” é uma mensagem clara sobre o serviço que eles prestam, que é basicamente uma oferta que não pode ser recusada.
Hotelaria e restauração
Há estimativas que indicam que até 50% dos restaurantes podem ir à falência. Os proprietários de restaurantes e hotéis estão atualmente a tentar encontrar novas formas de fazer negócios. Eis algumas tendências:
Novos conceitos de hotelaria
A visão monolítica de um hotel que serve apenas para a hospedagem está desatualizada. Os hotéis podem ser um agente de mudança. Podem servir, nesta fase, a outras necessidades do mercado - seja para arrendamento a longo prazo ou para escritórios. Assim, o conceito de “unidade de alojamento” torna-se – de modo geral - mais elástico.
O conceito de “staycations” está em voga: em vez de viajar por um país, os turistas permanecem mais tempo no mesmo local. Cabe ao hotel organizar tudo para entreter o cliente de acordo com seus interesses.
Em geral, a crise provocou também uma mudança de preferências, o que significa um benefício para alguns dos operadores: o turismo nacional tem uma forte tendência ascendente, com todos os destinos termais e rurais a aumentarem de peso, ao contrário das grandes cidades.
Menus com ingredientes de agricultura sustentável
Os clientes atualmente estão mais exigentes que nunca. Querem saber mais sobre a origem dos ingredientes, querem escolher não só o que comem, mas também, tanto quanto possível, saber quem produz o que vão ingerir. Seja honesto, mostre tudo com total transparência e ganhe competitividade sendo mais claro e transparente que seus concorrentes.
Depois da 2ª Guerra Mundial, a questão era: Como podemos produzir mais carne e mais barata? Hoje a pergunta é: a carne é boa para mim? E quando decido comer carne: de onde vem? Como os animais foram alimentados? > A produção deve ser transparente e convincente.
Os restaurantes evitam cada vez mais o custo de armazenamento e processamento de alimentos. Sistemas de entrega inteligentes, baseados em novas soluções tecnológicas, e em processos de transformação de alimentos transparentes e rastreáveis tornam os fornecedores de restaurantes mais competitivos.
Novos modelos de distribuição de comida
As vendas de alimentos mudam de local. PDVs únicos, como um restaurante, estão a perder competitividade. Os serviços de entrega de alimentos baseados em soluções tecnológicas possibilitam escalar o serviço de hospitalidade. Mesmo os alimentos premium são agora encomendados para entrega ao domicílio. No futuro, os restaurantes que existem apenas fisicamente sobreviverão quando fornecerem mais do que boa comida; terão que proporcionar um convívio agradável com um determinado grupo-alvo (ver e ser visto), ou experiências marcantes e surpreendentes para o cliente.
8 modelos diferentes para entrega de comida (cf. GDI):
1. Restaurante clássico com serviço de entrega de comida como serviço adicional.
2. Cozinha na nuvem: Um hub central que entrega alimentos pré-cozidos para subsidiárias mais pequenas, em que alimentos pré-cozinhados são rapidamente confecionados. Exemplo: Domino’s (https://www.dominospizza.pt/)
3. Cozinha fantasma (Ghost kitchen): Apenas serviço de entrega (sem restaurante físico). Os pedidos são feitos através de um menu online, e seguem para a cozinha mais próxima. As cozinhas estão localizadas em locais periféricos de cidades (custos de arrendamento mais baixos do que no centro da cidade). Exemplo: Green summit group (https://www.youtube.com/watch?v=u6kKvF1GzKI)
4. Restaurante virtual: O restaurante virtual (com marca própria) disponibiliza um menu numa plataforma digital, e opera através de parcerias com restaurantes fisicamente existentes. Aqueles restaurantes cozinham tanto para a sua clientela quanto para o restaurante virtual. No momento da entrada de uma encomenda digital, o respetivo restaurante prepara o prato e a plataforma digital organiza a entrega.
Exemplos: Le Poké Station (https://www.lepokestation.com/en ), Sushi Ya (http://www.sushiya.pt/)
5. Agregador sem frota nem motorista: Os menus são escolhidos através de uma app. A plataforma digital organiza e coordena a entrega com motoristas independentes que possuem veículo próprio. Para restaurantes, esta é uma maneira fácil de gerar uma receita adicional.
Exemplos: UberEats, Eat.ch (platform with >3.000 partner restaurants in Switzerland)
6. Consolidador: Pontos de entrega drop-off> Não há uma entrega de “última milha” para a casa das pessoas.
Exemplo: Yun Ban Bao (http://www.ybb.plus/)
7.Agregador com frota própria e motoristas: Os menus escolham-se numa app, a plataforma digital organiza e coordena a entrega com os seus motoristas.
Exemplos: Just Eat (https://www.justeattakeaway.com/) ; Deliveroo (https://deliveroo.co.uk/).
8. Cozinha escura (Dark kitchen): Restaurantes / marcas de restaurantes existentes alugam espaços de cozinha em locais estrategicamente bem posicionados. A plataforma digital providencia a app com o menu para encomendas, coordena o processo de pagamento e organiza a entrega.
Exemplos: DoorDash (https://www.doordash.com/en-US), Postmates (https://postmates.com/)
Conclusão: De modo geral, os conceitos e o volume de entrega de alimentos aumentarão no futuro. Este é um desenvolvimento que, acredita-se, não será revertido após a crise do Covid-19. No entanto, isso não significa que o restaurante clássico esteja morto, mas estes serão fortemente desafiados, pelo que têm que encontrar conceitos inovadores para se destacarem dos restantes.
As novas opções de serviços de entrega de alimentos são uma oportunidade para os serviços de gastronomia gerarem receita com uma estrutura de custo menor. Os operadores devem analisar bem as opções disponíveis para decidir em que modelo desejam investir.
Organização de eventos
As tecnologias virtuais ou híbridas desconexam as pessoas do tempo e do espaço. Nesta nova realidade reside um potencial para os organizadores de eventos e trabalhadores de cultura através da criação de novas formas para eventos e encontros culturais, tais como concertos de holograma ou festas de realidade virtual, em complementaridade com as experiências físicas. No futuro, não se pode apenas decidir onde nos encontraremos, mas também como.
A médio prazo, são concebíveis 4 cenários alternativos para a realização de eventos (cf. GDI):
- Pequenos grupos fechados (centralizado). Exemplo: Eventos de clube exclusivo para pessoas selecionadas. Concertos ao ar livre ou cinemas para pequenos grupos.
- Eventos pop-up: os espectadores estão no mesmo local, os artistas não. Também possível em pequenos eventos descentralizados que fazem parte de um grande evento comum.
- Eventos fantasma. Exemplo: Uma equipa desportiva ou uma orquestra está no mesmo local. O evento é transmitido em qualidade 3D para as localizações individuais dos espectadores, criando uma experiência muito real.
- Together-Alone (descentralizado): Eventos totalmente virtuais, vivenciados individualmente em casa. Todas as ligações entre artistas / produtores e espectadores são apenas digitais.
O uso desses modelos depende se os produtores e participantes de um evento se reúnem centralmente ou se conectam de forma descentralizada.
“Shop till you drop”, “Spend till the end”, “Buy till you die” (cit. David Bosshart, GDI), foram os slogans da cultura de consumismo das últimas décadas. Passaram à história.
Atualmente, grandes supermercados e shoppings em todo o mundo estão a fechar. Veja os exemplos dos EUA: Deadmall (http://www.deadmalls.com/) que recebe os visitantes com “Welcome to Retail History”. Veja também como muitos dos nossos supermercados e centros comerciais poderão ficar dentro de 10-20 anos: https://allthatsinteresting.com/abandoned-malls#1.
Comércio, distribuição e retalho
As lojas físicas que resistirão à crise terão que ser fortemente inovadoras com IA: Cada vez mais robôs e avatares sintéticos são também utilizados para o retalho.
Lojas com sistemas de self-service check-out, efetuando o pagamento sem caixa.
Exemplo: Standard.ai, https://standard.ai/
As compras online estão a “explodir” devido à pandemia (“efeito Amazon”). A previsão de crescimento do e-commerce para os próximos 5 anos condensou-se, em 2020, em 3 meses. As pessoas aprenderam a valorizar a comodidade da entrega ao domicílio, especialmente para novos segmentos de clientes, como pessoas com mais idade.
Com o e-commerce vem também o re-commerce. Isso significa uma crescente comercialização de itens usados, com o objetivo de reaproveitamento.
Apesar do aumento acentuado das compras online, as lojas de conveniência do bairro com produtos regionais, de produtores identificáveis e campos de produção identificáveis, provavelmente também sairão os vencedores da pandemia. Posteriormente, os produtores locais e regionais com distribuição direta também lucrarão com esta tendência - back to the roots.
Em relação ao setor alimentar, pode-se constatar que há um movimento de des-globalização.
Novos serviços de entrega
Para muitos retalhistas, a grande questão atualmente é: devemos construir nosso próprio sistema de entrega ou devemos fazer parceria com uma empresa de entrega já existente? Para ser competitivo, é necessário ter “um exército” de motoristas no terreno. Nas grandes cidades, os serviços de entrega geralmente contratam estudantes em tempo parcial. Seja como for, a organização da entrega física é um elemento fundamental. Ter unicamente uma plataforma digital para registar e processar encomendas, mesma que seja perfeita, não é suficiente.
Existem muitos modelos de entrega, e muitas novas empresas estão a aparecer “como cogumelos” (Compare supra:> os 8 modelos de entrega de comida). Provavelmente, esta competição conduzirá a: “O vencedor leva tudo”. A empresa que conseguir ser a mais ágil, com o melhor atendimento, com a melhor fiabilidade e sustentabilidade financeira, mais cedo ou mais tarde absorverá todas as outras. Portanto, ou se cresce rapidamente ou se morre.
Na próxima década, novos sistemas de automação de entrega ao domicílio (a “última milha”), eventualmente com auto-verificações, surgirão. Os sistemas de entrega com drones e carros autónomos levarão mais tempo até estarem maduros e serem seguros.
Até mesmo os clientes BtoC ficam mais independentes relativamente à logística. Verifica-se um aumento de novos meta-portais com comparação de preços para serviços de entrega.
Exemplos: Packlink, https://support.packlink.com/hc/pt ; Eurosender, https://www.eurosender.com/order/details
Energia
No caminho para NET ZERO
Um impacto imediato da pandemia foi uma quebra no consumo e na procura de energia. Ao médio e longo prazo, devido a tecnologias e sistemas mais eficientes em termos energéticos, estima-se que a procura de energia crescerá mais lentamente.
Exemplo: Creapaper https://www.creapaper.de/en/, produzindo papel com relva/erva invés de madeira, economizando 90% de energia.
A transição energética atualmente em curso é baseada em 3 pilares.
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- Des-carbonização
- Digitalização
- Descentralização
1. Des-carbonização
Estamos a mudar de uma sociedade baseada em carbono/energia fóssil para uma sociedade de hidrogénio. A eletricidade é uma solução a médio prazo (1-2 décadas) entre eles, para preencher a lacuna e suavizar a transição. Contudo, a eletricidade tem problemas associados a altas necessidades de energia para produção e armazenamento. Portanto, a longo prazo, a única solução sustentável é o hidrogénio.
A transição ocorrerá em todas as áreas de nossa vida: residências, indústria, mobilidade (principalmente carros e aviões).
Grandes empresas como a Shell, a BP e a Galp já estão em transição energética. Eles reconhecem a nova realidade e estão a transferir os seus recursos das áreas do petróleo e gás para as energias verdes. A pandemia acelerou essa mudança.
A tecnologia do hidrogénio foi lançada já na década de 90. Após um primeiro hype com expectativas exageradas, sofreu, não obstante, um retrocesso no início deste século. Mas nos últimos 5 anos a tecnologia melhorou muito, desta vez com expectativas mais realistas. Atualmente, estamos na “fase da iluminação” em relação à tecnologia do hidrogénio. A expectativa é atingir um patamar mais robusto por volta de 2030, no qual produtos mais estáveis podem ser desenvolvidos.
Resumindo, a redução da emissão de carbono é atualmente realizada com 3 abordagens principais:
- Melhor eficiência energética
- Substituir equipamentos emissores de carbono por soluções de energia renovável. O maior desafio continua a ser o armazenamento da energia.
- Captura e remoção do carbono da atmosfera com tecnologia especial para o efeito.
Exemplos: “Direct Air Capture Technology (DAC) from Carbon Engineering (Canada), https://carbonengineering.com/; Climeworks (Suíça), https://climeworks.com/
O facto de alguns Estados ainda subsidiarem fortemente os combustíveis fósseis é simplesmente inaceitável. Isso não apenas desacelera a transição energética em curso, mas enfraquece a longo prazo a competitividade de sua própria economia. A transição energética já não pode ser parada. Por isso, seria melhor investir esse dinheiro na preparação do futuro.
2. Digitalização
Embora os equipamentos existentes possam ser melhorados em termos de eficiência energética, considerando a procura global de energia, a digitalização com novas soluções tecnológicas é indispensável para uma rápida transição energética.
Os países pobres devem ser incluídos na digitalização. Para estes, é um imenso benefício no sentido em que proporcionaria um rápido desenvolvimento na igualdade de oportunidades, no acesso à informação e, em última instância, no incentivo a sistemas democráticos.
3. Descentralização
Equipamentos novos, locais e de baixo custo para a geração de energia reduzem a dependência da população à rede (microgeração). Isso reduz os custos mensais das indústrias e famílias, mas também é uma oportunidade para melhorar a vida de comunidades que não têm acesso à rede.
Conclusão: Em geral, as medidas para uma transição energética para proteger o meio ambiente e abrandar a alteração do clima foram aceleradas pela crise do Covid-19. Eles precisarão de trilhões de dólares de investimento. Isso significa que a transição só vai acontecer se houver uma perspetiva económica do setor privado, com o incentivo de que o investimento tenha retorno. Os estados podem apoiar a transição energética, assumindo custos e criando incentivos, mas não são capazes de arcar com todo o fardo financeiro da mesma. Apenas o investimento privado permitirá, e acelerará, a transição energética urgentemente necessária.